A província de Colón é um centro econômico do Panamá, pois possui a segunda maior zona franca do mundo, onde produtos de importação e exportação são vendidos sem impostos. Além disso, os portos mais importantes do país para logística e carga internacional estão localizados aqui. Mas isso não conseguiu evitar um problema sociopolítico em 2022, quando uma greve massiva limitou a chegada de alimentos à região. Dessa dificuldade, surgiu a ideia de criar um sistema de irrigação inteligente com sensores para facilitar que as pessoas façam suas próprias hortas, garantindo maior segurança alimentar nas comunidades.
Foi assim que nasceu o projeto “Megaton Plants”, finalista em 2023 do Solve for Tomorrow América Central e região do Caribe, que reúne 11 países: República Dominicana, Costa Rica, Panamá, Guatemala, Honduras, Nicarágua, El Salvador, Equador, Venezuela, Belize e Barbados. “Vimos a necessidade quando vimos os preços dos alimentos vindos das hortas dispararem e muitas vezes não havia vegetais para comprar”, lembra a professora mediadora Alba de Delgado. “Também buscamos criar uma cultura de plantio”, acrescenta.
A Escola José Guardiola é uma das primeiras escolas comerciais da província da Colômbia e foi onde a professora também estudou. Desde 2001, ela ensina na escola e atua como auditora e secretária executiva. Hoje, ela ensina formulação e avaliação de projetos. “Sempre gostei da aventura de tentar coisas novas e quando ouvi falar do Solve for Tomorrow achei ótimo”, disse ela. Entusiasmada com a ideia de participar, a educadora também motivou seus estudantes.
Os cinco jovens envolvidos eram estudantes do último ano da escolaridade obrigatória, o 12.º ano, e tinham 17 e 18 anos. No Panamá, os estudantes concluem cursos de bacharelado, com foco em áreas específicas de conhecimento, como carreiras. Dessa equipe, dois eram formados em TI, um era de Turismo e os outros dois eram estudantes de Comércio. Nas diferentes áreas, os estudantes estão habituados à Aprendizagem Baseada em Projetos; seja com impressão 3D ou inteligência artificial, por exemplo. Antes de participar do Solve for Tomorrow, a equipe participou de uma competição promovida pelo Ministério da Educação, mas ainda não havia desenvolvido o protótipo; eles estavam apenas explorando a ideia. Eles não chegaram à final e isso os deixou desanimados; Alguns não estavam mais interessados em continuar com o projeto. Mas os cinco estudantes decidiram seguir em frente e se inscreveram no Solve for Tomorrow.
A experiência foi importante para a independência e autonomia deles. Os estudantes dividiram os papéis e se organizaram. Cada um viu seu potencial e foi uma convivência muito prazerosa, diz Delgado.
Pesquisa em livros e em campo
Inicialmente, os jovens realizaram pesquisas científicas sobre o desenvolvimento da pecuária e conversaram com pessoas envolvidas nessa atividade rural. “É fácil encontrar um produtor perto de nós e perguntar o que ele faz, como funciona a irrigação e até mesmo ir em lojas que vendem insumos agroindustriais e poder tirar dúvidas com ele”, explica Delgado.
Eles também aprenderam quais produtos naturais poderiam usar para o crescimento das plantas. Além de garantir o sistema de irrigação inteligente para que as pessoas possam ter sua horta sem muito trabalho e permitir a produção mesmo quando não estão em casa. Os estudantes também buscaram oferecer uma solução sustentável: criaram recipientes, como caixas impressas em 3D na escola, que permitem coletar água da chuva.
Na lista de materiais, eles ainda precisavam de sensores, fiação, painéis solares e baterias, entre outros suprimentos para a parte robótica. “Para testar o protótipo, eles usaram baterias, mas tinham a opção de carregá-lo por meio de painéis solares para que ele se recarregasse sozinho”, explica. No final, a coisa toda custou cerca de 100 dólares.
Ajustando a programação do sistema de irrigação inteligente
O conhecimento em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) foi crucial para alcançar o “Megaton Plants”. Com o que já aprenderam na escola sobre robótica e programação, os estudantes conseguiram fazer o robô se mover no espaço, mas para este projeto eles precisaram ajustar os sensores para detectar se o solo está seco ou não. Para isso, treinaram a inteligência artificial para analisar dados de sensores e determinar as necessidades de água da planta cultivada.
Para os testes, eles usaram leguminosas de crescimento rápido, como pimentões e tomates. “Eles buscavam plantas que, pela semelhança, tivessem as mesmas necessidades de água no momento para colocar na mesma caixa”, descreve a educadora.
Com o resultado do protótipo, Delgado observa que o projeto pode ser reproduzido em maior escala. “Podemos até implementar em escolas públicas e privadas que tenham áreas verdes, onde podemos ensinar as crianças desde cedo a fazerem suas próprias hortas”, reflete.
Por fim, a professora também ressalta a importância do apoio familiar nesse processo. Não havia tempo para se dedicar ao projeto durante o horário de aula, então eles frequentemente tinham que trabalhar em outros horários. “Sou grato que os pais tenham se envolvido tanto”, diz.