A empatia é o ponto de partida de qualquer transformação social. Somente colocando-se no lugar do outro e entendendo perspectivas de quem vive realidades diferentes é possível pensar em soluções para os desafios de uma escola, território ou comunidade. No programa Solve for Tomorrow, a empatia é uma competência socioemocional que pavimenta o caminho para todas as etapas da aprendizagem baseada em projetos (do inglês Project-Based Learning, ou PBL).
Foi por meio de um profundo exercício empático que nasceu o projeto Plane M’s 441, finalista do programa Solve for Tomorrow Brasil 2024. A escola CIEP 441 Mané Garrincha, em Magé (RJ), fica próxima ao rio Inhomirim, e suas cheias já causaram enchentes e deslizamentos. Para ajudar na prevenção de desastres, os estudantes criaram um planador equipado com GPS e câmera que monitora áreas de assoreamento e ajuda a prefeitura a entender possíveis pontos de atenção no período de chuvas, alertando a população.
“A empatia foi o motor essencial do projeto. Além de ouvir os relatos das pessoas que moram próximas ao rio, duas alunas da equipe também viveram na pele os impactos da enchente, relatando momentos de medo e insegurança. A vivência direta nos fez compreender a urgência da situação, e nos impulsionou a criar um projeto de impacto social, pensando no bem coletivo e na prevenção de novos desastres”, explica Rosiane Paes, professora mediadora do Plane M’s 441.
A educadora incentivou o uso de empatia não só na definição do projeto STEM (acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) como também em todas as etapas, desde a ideação até a testagem do protótipo. A seguir, destacamos cinco dicas dadas por Paes que podem apoiar outros educadores a fortalecer estratégias de empatia em seus projetos.
1. Rodas de conversa
Qualquer prática empática dentro de projetos STEM começa com diálogo e escuta atenta. Por isso, rodas de conversa entre os estudantes ajudam a definir um tom empático para todo o resto do processo de desenvolvimento, além de serem momentos fundamentais para a consolidação da ideia do protótipo. A professora recomenda que estes momentos de partilha sejam acolhedores, sem julgamentos, onde os estudantes possam compreender os erros como parte essencial da aprendizagem.
No caso do Plane M’s 441, as rodas ajudaram principalmente a acolher receios e medos dos estudantes com relação à cheia dos rios e suas consequências na vida da comunidade. Foi a partir do relato das alunas que viviam cotidianamente com o risco de enchentes que surgiram as primeiras ideias para um monitoramento de pontos de atenção e a possível parceria com o poder público.
2. Materiais multimídia para uma visão aprofundada do problema
A pesquisa também pode se transformar em uma etapa de desenvolvimento de empatia. Materiais bibliográficos e visuais ajudam os estudantes a ter uma compreensão mais vasta do assunto e ampliar o olhar a partir de perspectivas diversas. Rosiane incentivou que seu grupo assistisse a vídeos e reportagens locais para aprofundar o entendimento do problema das enchentes. Por meio das vivências audiovisuais, os alunos passaram a enxergar o projeto não apenas como uma atividade escolar, mas como uma ação social.
3. Visitas ao território
Grande parte do desenvolvimento empático do projeto Plane M’s 441 aconteceu em visitas aos territórios afetados pelas cheias do rio Inhomirim. As andanças pelas margens do rio ajudaram a tornar mais concretos os desafios que o protótipo do planador precisava atender. No caso deste projeto em específico, os estudantes já faziam parte do território para onde o protótipo seria desenvolvido. Caso isso não aconteça no projeto, Rosiane ainda recomenda fortemente visita ao território ao qual se destina o protótipo.
4. Entrevistas e escuta da comunidade
Nada desenvolve mais empatia do que conversar com quem vive o problema que o protótipo busca solucionar, seja ele físico ou representacional, como é o caso de uma campanha de conscientização. Para além do diálogo atento e respeitoso, é sempre importante deixar nítido qual o objetivo do protótipo, como ele será desenvolvido e, sempre que possível, dar um retorno à comunidade na hora de realizar testes.
5. Empatia como exercício pedagógico
Parte do desafio de projetos STEM tem a ver com a frustração quando um teste do protótipo dá errado, ou quando alguma etapa não alcança o resultado esperado. Nessas horas, Rosiane aconselha os professores a exercer a empatia como prática pedagógica para impulsionar os estudantes a não desistirem:
“A minha dica para os professores é que acolham os erros como parte essencial de aprendizagem. Criem ambientes seguros, onde a tentativa e o fracasso não sejam motivo de vergonha e sim etapas naturais da construção do conhecimento. Escutem seus alunos, validem emoções e convidem a comunidade a participar. Ser empático é mais do que ter paciência: é oferecer suporte emocional, reconhecer o esforço, e mostrar que juntos é possível seguir”.
