Você sabia que aproximadamente um milhão de garrafas plásticas são compradas no mundo a cada minuto? O valor, baseado num estudo realizado pela Euromonitor em 2017, demonstra até que ponto este produto está presente no cotidiano e que é urgente a necessidade de dar um destino adequado a estes resíduos. Garrafas PET (tereftalato de polietileno) são utilizadas para embalar água e refrigerantes e esse material pode ser reciclado diversas vezes. Levando isso em consideração, um grupo de estudantes descobriu como transformar os recipientes num dispositivo que ajuda pacientes com problemas de saúde ligados a traumas, doenças de nível central, como acidente vascular cerebral (AVC), deficiências motoras a nível da mão, dedos, e outros.
A inovação foi finalista da 10ª edição do Solve for Tomorrow Peru, em 2023. Chamado de “SIFT – Saúde, Inovação, Tala e Tecnologia”, o projeto foi desenvolvido por estudantes do Colégio Mayor Secundario Presidente del Perú (COAR Lima). São estudantes do internato, entre os 16 e os 17 anos e que frequentam o quarto ano do ensino secundário, ou seja, o penúltimo ano da escolaridade obrigatória. “São estudantes com pouca disponibilidade de tempo e fizeram o projeto fora do horário letivo. Por isso, procuramos formar a equipe com estudantes dispostos a fazer esse esforço extra”, relata o professor mediador, Erik Vidal.
A criação utiliza uma máquina de impressão 3D para confeccionar talas com resina feita de material reciclado, que foram doadas a pacientes de um complexo hospitalar local. A tala é um dispositivo utilizado para fisioterapia e tratamento de fraturas ou reabilitação médica. É um aparelho que imobiliza a mão, alivia dores musculares e previne contraturas musculares.
O projeto começou antes do Solve for Tomorrow, a partir da disciplina “Tecnologia para Empreendedorismo”, onde se trabalha com uma metodologia de encontrar um problema real baseado na investigação, pesquisando e buscando possíveis soluções. Mas a ideia extrapolou os limites da turma.
Promoção da economia e da sustentabilidade
A primeira ideia era criar uma máquina para reciclar garrafas PET. “Foi criada aqui na escola, com os estudantes, uma máquina que transforma garrafas PET em filamento para impressora 3D. É aí que tudo começa”, explica. Pensaram que a criação poderia ser como um negócio porque o custo seria reduzido, já que o filamento geralmente vem da China.
Colocando a mão na massa, aprenderam a aperfeiçoar o processo, que consiste basicamente em aquecer a garrafa, depois cortá-la e puxá-la, formando um fio que será o insumo para a fabricação das talas. Agora que já tinham o material básico, como fazer a produção? A escola não tinha impressora 3D, então usaram a que o estudante tinha em casa.
Quando esta etapa ficou pronta, surgiu um novo desafio: o que fazer com os filamentos. Procuraram problemas que pudessem ser resolvidos com o fio plástico. O professor conhecia o diretor de um hospital e tiveram a oportunidade de visitá-lo e ver que havia muitos casos com problemas no túnel do carpo. Ligaram os pontos: tinham um material mais sustentável e o hospital tinha a necessidade de talas constantemente. Por que não os fazer com filamentos de garrafas PET?
“No hospital, pensavam que os estudantes estavam terminando o curso superior de medicina e ficaram surpresos quando descobriram que eram do colégio. A experiência foi linda”, conta, orgulhoso, o professor. O assunto era completamente novo para a equipe, mas eles estudaram muito. “Além disso, havia outro desafio: como padronizar as talas, se as mãos das pessoas não são iguais?”, afirma.
A experiência foi uma lição de como se comportar profissionalmente, sendo responsável e assumindo seus erros, além de fazer as correções necessárias. Ou seja, saber que isso faz parte do processo criativo.
Com os aprendizados, os estudantes aprimoraram o design e, quando o protótipo funcionou na nova versão, os estudantes ficaram muito felizes com o resultado e disseram que a experiência renovou a esperança de que a tecnologia pode ser útil para a sociedade. “Os pacientes ficariam encantados em ver os jovens se interessando por um problema com o qual convivem, porque conseguir a tala é mais uma etapa no seu processo de cura”, acrescenta o professor.
Para o design 3D, eles usaram o software profissional gratuito Blender. “Alguns membros da equipe se capacitaram fazendo contatos em universidades para fazer cursos rápidos sobre o assunto e então eles próprios começaram a explorar a ferramenta”, acrescenta Vidal.
De projeto escolar a Centro Tecnológico
A escola prepara jovens para estudar em outros países e alguns integrantes da equipe já foram aceitos para o intercâmbio, enquanto outros se preparam para isso. Porém, o professor pretende continuar com o projeto com os estudantes que tiverem disponibilidade. Ele tem negociado com o hospital para que em 2025 consigam implementar o primeiro Centro Tecnológico dedicado à reabilitação na instituição. “Procuramos aliados e vamos implementar a máquina que criámos, montar e doar uma impressora 3D e formar os técnicos designados pelo hospital para que eles próprios possam fabricar os produtos”, afirma.
O objetivo é reduzir custos hospitalares e promover a capacitação técnica dos profissionais. Além disso, alguns estudantes começaram a estudar uma alternativa para filtrar ou eliminar o impacto do gás produzido na queima do plástico.
Mudando o mundo da escola
O educador destaca que essa experiência mudou a forma como os estudantes veem seu papel no mundo. “Eles agora veem que o conhecimento pode ser transformado em uma solução real e transformar suas realidades. Também aprendi muito. Acho que precisamos de agentes de mudança. Programas como o Solve for Tomorrow são muito importantes para valorizar as iniciativas dos jovens”, finaliza.