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Chile
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#Sociedadejusta

Dispositivo contribui com a inclusão de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

A ferramenta monitora a poluição sonora e, assim, diminui o desconforto e dificuldades de aprendizagem de alunos com TEA, além de promover empatia e conscientização.

Professor(a)

Foto de Carlos Felipe Zuleta Alfaro
Carlos Felipe Zuleta Alfaro

Escolas

 Colegio Esperanza de Quilpué

Nome do projeto

Seekers of Silence

Áreas STEM

Ciências, Engenharia, Matemática, Tecnologia

Outras áreas de conhecimento

Sociologia

A empatia foi o tema central do projeto vencedor da 10ª edição do Solve for Tomorrow Chile. Orientada pelo professor Carlos Felipe Zuleta Alfaro, do Colégio Esperanza de Quilpué, a iniciativa Seekers of Silence  (Buscadores de Silêncio é a tradução em português e S.O.S. é a abreviatura) promove a inclusão de alunos com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), condição que afeta a interação e a comunicação da pessoa com o mundo exterior e apresenta diversos sinais, como sentir-se desconfortável em ambientes e situações sociais. Embora existam 70 milhões de pessoas com TEA em todo o mundo, elas sofrem preconceitos e muitas vezes têm as suas necessidades invisibilizadas. Este projeto desenvolveu um dispositivo para garantir mais conforto a todos os alunos, por meio da detecção de níveis de ruído em tempo real.

“Se não forem tomadas medidas concretas, a discriminação pode ocorrer de forma não intencional. Por exemplo, é comum que pessoas com TEA tenham alta sensibilidade auditiva. Um aluno com quem conversamos disse que adorava brincar, mas não queria sair para o recreio porque seus colegas gritavam, e isso o incomodava”, diz Zuleta, que é professor de matemática, tio de uma criança com TEA e que estuda poluição sonora há anos. No caso do Seekers of Silence, é considerado qualquer excesso de ruído que provoque alteração no aprendizado ou no humor do aluno.

Quando o educador sugeriu a criação de uma solução para o problema, os alunos abraçaram a ideia e começaram a pesquisar. Participaram cinco jovens com idades de 16 a 18 anos, que frequentam o quarto ano, ou seja, o último ano da escolarização obrigatória. Eles foram selecionados por seu desempenho acadêmico, interesse e disponibilidade.

“Fizemos um estudo, e a verdade é que muitas vezes a resposta tem sido retirar o aluno da sala. Em vez de reduzir a poluição sonora para que o aluno não se preocupe, as soluções são segregá-lo. Isso priva o estudante do aprendizado e da interação social, além de promover pouca empatia também por parte do restante da turma”, acredita Zuleta.

Dispositivo produz alerta visual para excesso de ruído

Após uma pesquisa com os alunos, o grupo identificou dois pontos críticos: o refeitório da escola e as salas de aula. Mas, no final, optou-se por focar na sala de aula porque é o espaço que impacta a aprendizagem. Em seguida, foram investigadas as soluções atuais e, primeiro, pensaram em usar fones de ouvido com redução de ruído. “Mas, como outras soluções que vimos, foi uma resposta parcial, não mudou a raiz do problema”, disse o professor.

O mecanismo de Seekers of Silence utiliza luzes LED, criando um efeito de semáforo para representar os decibéis capturados (unidade usada para medir a intensidade do som e outras grandezas físicas). Quando a luz fica vermelha é porque o limite de 40 decibéis (dB) foi ultrapassado. O aplicativo então notifica os adultos responsáveis, para que eles possam agir e retornar aos níveis apropriados, que variam de acordo com a turma. O aparelho também auxilia pessoas com déficit de atenção e outras condições mais sensíveis ao som.

Prototipo Seekers of Silence

Testes sucessivos melhoram o dispositivo

A princípio o aparelho não conseguia identificar o que era um ruído extremo, outras vezes algumas luzes não funcionavam. “Um ponto importante foi selecionar um microfone que detectasse também a distância da sala de aula. Tivemos que testar na primeira fileira, na segunda e assim sucessivamente até o final para configurar os decibéis”, lembra Zuleta.

Depois que o protótipo ficou pronto, chegou a hora dos testes práticos. A equipe instalou o mecanismo e o testou em diversas salas, medindo os ruídos enquanto a aula continuava sua rotina, verificando se tudo estava indo bem e anotando os limites que cada turma estabelece como recomendado, ajustando os níveis e fazendo melhorias ao longo desta fase.

“A comunidade escolar foi muito importante para o sucesso da experiência. Os professores puderam fazer testes e tirar dúvidas referentes ao desenvolvimento do projeto. E os alunos se adaptaram às instruções e participaram ativamente. Tivemos a oportunidade de testá-los bastante”,  diz ele.

Por fim, o aparelho permite medir o nível recomendado em cada aula e agora serve para monitorar diariamente se esses limites são respeitados. Embora existam variações, todos os limites respeitam minimamente a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 50 dB.

De um projeto STEM a um maior cuidado com o outro

Para o professor, esse tipo de projeto conscientiza sobre o impacto que as ações têm em outra pessoa.

Eu sabia que eles lidavam bem com o conteúdo, mas para mim o mais enriquecedor é que  foram para a universidade com as habilidades para a vida que esse projeto lhes proporcionou, orgulha-se o professor.

Entre as competências desenvolvidas nesse período, o professor destaca que a mentoria do Solve for Tomorrow ajudou a aprimorar a capacidade de comunicação da equipe, incluindo tarefas como a preparação de pitch (apresentação para demonstração de uma ideia).

Por um mundo menos barulhento

O projeto Seekers of Silence não terminou no Solve for Tomorrow. Os alunos e o professor estão fazendo um curso de Análise de Dados em Python (linguagem de programação de alto nível) para continuar aprimorando a ferramenta e planejam publicar uma página web em breve. Além disso, buscam alianças para continuar implementando a iniciativa em outras localidades. “Temos interesse em ampliar o projeto e temos sido procurados por diversas escolas, não só da região de Valparaíso, mas também de outras localidades do país”, revela.

Para o professor, o projeto pode ser facilmente reproduzido em outras escolas, porque tem baixo custo e utiliza tecnologia relativamente simples. “Acho que também pode ser extrapolado para diferentes áreas, como escritórios de trabalho, ginásios e salas de espera. O impacto que tem é tremendo. A convivência da comunidade em geral pode melhorar”, acrescenta. Na escola, a reação dos professores e dos funcionários foi extraordinária. “Mães que tinham filhos com TEA me contaram que esses alunos tinham que sair da sala de aula  pelo menos duas vezes por semana devido ao nível de poluição sonora e que esse dispositivo poderia mudar a vida deles se fosse implementado desde o início do ano letivo “, reforça Carlos Zuleta.

Foco na prática!

Confira o guia do professor sobre como desenvolver um mecanismo de controle e combate à poluição sonora em sala de aula:

Empatia

A partir da experiência que o professor Carlos Felipe Zuleta Alfaro já teve com a questão da poluição sonora, quatro alunos de excelência da escola se propuseram a entender quais são os desafios que as pessoas com o espectro autista enfrentam no contexto escolar. Com isso, descobriram que o ruído excessivo na sala de aula e nos espaços comuns afetava o bem-estar e a aprendizagem dessas pessoas e, portanto, precisavam fazer alguma coisa!  A solução precisava garantir o conforto deste grupo sem segregá-lo dos demais.

Definição

A equipe entrevistou os alunos para entender suas percepções sobre a poluição sonora e descobriu que o que é considerado excessivo pode ser diferente de aula para aula. Por exemplo, em uma sala sem alunos com TEA, o nível permitido costuma ser maior do que quando estes estavam presentes.

Ideação

Cada aluno do grupo tinha funções específicas, mas sempre com disposição para ajudar uns aos outros. Com pesquisas e testes preliminares, algumas soluções possíveis foram descartadas e o produto mínimo viável foi projetado. O dispositivo seria como um semáforo, para indicar os níveis de poluição sonora por luzes.

Protótipo

A estrutura e o tamanho do semáforo mudaram ao longo do tempo, assim como a escolha das peças. Quando a escola adquiriu uma impressora 3D, fizeram uma caixa que seria a base do aparelho. Em seu interior, há sensores de áudio conectados a luzes de LED, que criam um efeito de semáforo para representar os decibéis captados e sinalizam em vermelho quando o ruído é excessivo.

 

Teste

Com o protótipo pronto, a equipe o levou a diversas salas de aula para colocá-lo em ação. Os demais professores e alunos do colégio participaram desta fase, indicando em que nível a poluição sonora se torna um incômodo. Foi definido um limite recomendado para cada sala de aula, e a cada teste as crianças se propuseram a melhorar o aparelho. No total, foram aproximadamente seis meses de trabalho.

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