Altas temperaturas nas salas de aula. Esse é um problema que afeta cotidianamente milhões de estudantes e professores que vivem em regiões tropicais do globo, influenciando, inclusive, a forma como aprendem e se engajam com os estudos. E foi justamente essa questão que mobilizou três estudantes e um professor do Colégio Carlos Restrepo Araujo, localizado em Bosconia, na Colômbia, a pensar formas simples e econômicas para refrescar o ambiente.
Observando como a sensação térmica era significativamente menor embaixo das árvores, o grupo desenvolveu uma metodologia e equipamentos acessíveis para instalação de tetos verdes no prédio da instituição. As plantas escolhidas criam uma espécie de capa isolante, diminuindo a incidência de calor e refrescando o ambiente – exatamente como a sombra de uma árvore.
“No começo, naturalmente, surgiram ideias mirabolantes, muito custosas ou que geravam problemas secundários como a instalação de ar-condicionado que, além de financeiramente inviável, gera problemas ambientais diretos”, analisa o professor Hernán Alvarado, que coordenou a equipe de estudantes.
Quando os jovens observaram na prática o bem-estar gerado pelas sombras das árvores, começaram de fato a pensar em outras possibilidades de ação. Foi aí que o grupo iniciou um trabalho intenso de pesquisas, buscando referências de como construir – sem grandes investimentos financeiros – a proposta dos tetos verdes. “Mas aí surgiram os problemas. Primeiramente, os tetos verdes são comuns na Europa, onde normalmente se aplica a tecnologia por preocupações ambientais e não necessariamente como estratégia para baixar as temperaturas. E em segundo lugar: os tetos padrões das escolas na região são lâminas metálicas inclinadas. Como faríamos para plantar as árvores? Como garantir a impermeabilização? Qual o peso máximo que poderia ter a estrutura?”, narra o professor, destacando a importância do processo de investigação das múltiplas questões que compõem um desafio. Ele explica que mais de 70% dos edifícios na região têm tetos como o da escola, que, embora menos custosos, aumentam a temperatura ambiente e a sensação de calor.
Design Thinking a 40ºC: ideias para solucionar questões climáticas
Com base no Design Thinking, o professor foi trabalhando com a turma cada uma das questões, e a partir da investigação e levantamento de ideias e possibilidades, começaram a prototipar a solução. Como resposta inicial, decidiram colocar as plantas em vasinhos que pudessem ser encaixados em estruturas e aí transpostos aos telhados. Foram vários desenhos até chegar na solução para os viveiros como gavetas que pudessem ser encaixadas em trilhos, simulando blocos de montar.
O protótipo foi instalado para teste em distâncias de 1m de altura. A partir dos testes, foi possível aferir que a tecnologia desenvolvida pelos jovens abaixa até 8ºC a temperatura ambiente, concretizando-se como solução de fato viável não apenas para escolas, mas para residências e outras edificações.
Contudo, como as temperaturas da região são muito altas, a evaporação da água é muito rápida, dificultando a solução das regas. Assim, foi desenvolvido um aprimoramento ao protótipo, adicionando à estrutura um compartimento para armazenagem tanto de rega quanto de água da chuva.
Para chegar ao protótipo final, o grupo acionou diferentes especialistas, além de intensa pesquisa de referências em sites científicos e materiais especializados na temática. O desenho gráfico do protótipo foi feito com o apoio do próprio professor, nas atividades de informática, enquanto a professora de biologia e o professor de física apoiaram com a escolha das plantas, formas de mensuração das temperaturas, e definição das estratégias para lidar com a evaporação da água. “Foi de fato um trabalho que mobilizou os estudantes de forma ímpar, e que envolveu diferentes segmentos e pessoas da escola”, argumenta Hernán. Com o apoio da mentoria do Samsung Solve for Tomorrow, o grupo conseguiu avançar e compreender as diferentes etapas do Design Thinking. “Eles nos apoiaram muito nas iterações, a compreender como de fato poderíamos melhorar o protótipo e tornar nossa solução uma proposta replicável”, justifica o docente.
Telhado verde CoolRoof: funcionamento
A solução recebeu o nome CoolRoof, em um jogo de palavras: cool, em inglês, quer dizer tanto “fresco” quanto “legal” e roof significa teto ou telhado. Sua estrutura final consiste em dois trilhos que conectam estruturas retangulares plásticas de dois níveis. No nível inferior coleta-se a água da chuva, e o segundo recebe as plantas. Por ser uma estrutura de encaixe, é possível trocar os containers e vasos de plantas individualmente, repondo ou ajustando as padronagens conforme a necessidade ou configuração dos telhados.
Na iniciativa, foi utilizada a planta popularmente conhecida como chorrito, uma trepadeira que é típica da região e que tem boa resposta como isolante térmico. Por ser uma trepadeira, cresce rapidamente e ocupa espaços com maior facilidade.
CoolRoof: telhado verde como projeto de continuidade
A proposta, embora testada apenas em escala inicial, chamou atenção das autoridades locais. Com a visibilidade da participação no programa Samsung Solve for Tomorrow, os jovens conseguiram apresentar o projeto à Prefeitura da cidade que está interessada em testar e replicar a proposta em instituições escolares e outros equipamentos públicos da região.
O protótipo também foi apresentado ao Serviço Nacional de Aprendizagem (SENA), instituição pública colombiana de formação profissional, técnica e empreendedora vinculada ao Ministério do Trabalho do país que demonstrou grande interesse em apoiar o grupo a dar sequência às testagens e escalabilidade da solução. A ideia é incubar a iniciativa no Tecnoparque da região, qualificando tanto o protótipo quanto a forma de gestão do projeto.
Múltiplos ganhos: aprendizagem baseada em projetos
Para além do interesse na continuidade do projeto – que para os estudantes e professor é a maior vitória -, o docente celebra o trabalho com a abordagem STEM e Aprendizagem Baseada em Projetos. Para ele, os avanços do grupo foram visíveis e as habilidades e conhecimentos desenvolvidos certamente impactarão suas vidas no presente, como estudantes, e no futuro, como cidadãos e profissionais.
Para Hernán, embora os estudantes tenham avançado em muitos aspectos – técnicos e socioemocionais -, é preciso destacar quatro habilidades. Em primeiro lugar, o docente destaca a capacidade de gestão de tempo dos seus alunos, que tiveram que combinar as atividades escolares com as demandas do projeto.
Como segundo ponto, o professor celebra como o grupo qualificou sua capacidade de trabalho em equipe, com cada um defendendo seus pontos de vista e ideias, mas sabendo escutar e apreciar a colaboração do colega. Em terceiro lugar, Hernán avalia que os jovens perderam o medo de errar: “aprender a sonhar, a tentar, mesmo que a resposta inicial não seja a esperada”.
Por fim, o professor explica que ter contato com a comunidade externa, organizando o pitch, e falar em público frente a um painel de especialistas fez toda a diferença. “Hoje meus alunos se sentem confortáveis em ambientes com os quais não estavam familiarizados. Eles têm segurança! E como docente, esse é o maior ganho que eu poderia desejar”, celebra.