As escolas são espaços guardiões da diversidade: é no encontro com outro que os jovens aprendem a conviver com a diferença e entender melhor a si próprios e ao mundo ao seu redor. Para além de um valor ético incontestável, a diversidade na educação é um recurso criativo poderoso para solucionar problemas reais durante o desenvolvimento de projetos de STEM (acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
“Quando estudantes de diferentes origens colaboram, colocam em cena vivências e perspectivas variadas, que ajudam a construir soluções mais criativas, contextualizadas e inovadoras”, explica Leticia Araújo Moreira da Silva, coordenadora de programas do Cenpec, organização sem fins lucrativos que atua como parceira técnica do Solve for Tomorrow no Brasil. “Essa diversidade, quando reconhecida e valorizada, também favorece um ambiente mais inclusivo, no qual todas(os) tendem a se sentir mais à vontade para compartilhar ideias — o que pode aumentar o engajamento das(os) participantes no projeto.”
Grupos heterogêneos, com presença de mulheres, estudantes negras e negros, de comunidades tradicionais ou periféricas, trazem soluções de STEM conectadas com as problemáticas de seu território. É o caso do projeto TESLA: Tecnologia Escolar Sustentável Ligada ao Arduíno, vencedor no Solve for Tomorrow 2021, no Brasil. Para criar um biodigestor a partir de resíduos das merendas escolares, foi essencial uma equipe mista em gênero e com perfis múltiplos: o estudante sonhador, o sistematizador, o resiliente, etc.
“A pluralidade de olhares faz diferença em todas as etapas de um projeto”, comenta Silva. Ela destaca que essa contribuição pode ser observada principalmente na fase de identificação de um problema. “É nesse momento que diferentes vivências, trajetórias e pertencimentos socioculturais ampliam a percepção sobre o contexto, permitindo que se identifiquem problemas que poderiam passar despercebidos por alguns, ou que, uma vez identificados, podem ser analisados a partir de ângulos mais complexos e sensíveis. Ajuda a revelar nuances e interseções que um olhar homogêneo talvez não alcançasse. A diversidade não só influencia o que se escolhe investigar, mas também como se interpreta, desenvolve e implementa a solução ao longo de todo o processo.”
Desafios e oportunidades da diversidade na educação
Montar equipes diversas para projetos de STEM pode relevar desafios que a própria comunidade escolar enfrenta na promoção da diversidade na educação. Se a escola não oferece acolhimento para endereçar preconceitos ou violências relativas à diversidade de raça, gênero e classe social, isso dificulta a formação de grupos heterogêneos, como também o desejo desses estudantes de participar destas e outras iniciativas escolares.
“Superar esses desafios exige a criação de estratégias cotidianas, incorporadas ao Projeto Político-Pedagógico da escola. Essa abordagem amplia a questão para além da simples formação de equipes, assumindo uma postura ética e política comprometida com o papel social da escola”, complementa.
Silva ainda recomenda outras estratégias que devem ser fomentadas pelos educadores e pela coordenação, como: a promoção de um clima de respeito mútuo e de confiança, construindo ambientes propícios à escuta ativa e participação efetiva; reconhecimento e valorização de diferentes formas de expressão, liderança e saberes; e sobretudo a criação de espaços seguros e acolhedores dentro da sala de aula, para que estudantes se sintam confortáveis e confiantes para expressar suas ideias.
Outro bom exemplo de iniciativa nascida da diversidade na educação é o projeto “JENNI – My Physio Friend”, segundo colocado no Solve for Tomorrow 2024, no México. Duas estudantes do ensino médio (fase escolar antes da universidade) criaram um aplicativo de reabilitação com inteligência artificial, focado em pessoas com próteses. Jennifer, estudante com deficiência e uma das integrantes da iniciativa, trouxe sua perspectiva pessoal para criar uma ferramenta digital que sugere exercícios e encaminha pessoas que usam prótese para espaços de reabilitação.
Para educadores que desejam incluir diversidade dentro de suas metodologias de STEM, Silva acredita que a Aprendizagem Baseada em Projetos (conhecida pela sigla PBL, do inglês Project-Based Learning) e o Design Thinking são boas ferramentas de inclusão, estimulando o protagonismo de estudantes e incentivando professores a trabalharem de forma colaborativa e inovadora. Outra estratégia sugerida pela educadora é “começar as aulas com rodas de conversa em que todas(os) possam se expressar, criando um ambiente de escuta ativa e respeito mútuo, que são a base para a inovação a partir da diversidade”.
Como os projetos “TESLA: Tecnologia Escolar Sustentável Ligada ao Arduíno” e “JENNI – My Physio Friend” demonstram, iniciativas que partem de desafios reais da comunidade e são elaborados por vozes diferentes, “enriquecem o processo e favorecem a criação de soluções mais criativas e inclusivas”, conclui a coordenadora do Cenpec.
